terça-feira, 22 de julho de 2008

Talento de Exportação

Com escassez de mão-de-obra qualificada,
países ricostentam atrair imigrantes com diploma universitário

O físico carioca Mauro Ferreira está pensando em pedir a cidadania irlandesa. Professor e pesquisador na universidade de Dublin há nove anos, o brasileiro de 39 anos destaca-se por seus estudos na área de nanotecnologia. A carreira de Ferreira poderia ser classificada, por aqueles que se preocupam com a saída de talentos para o exterior, como um caso exemplar de "fuga de cérebro". A expressão carrega a idéia, obviamente negativa, de que cada especialista que se muda para outro país, em especial quando sua formação acadêmica foi paga com dinheiro público, representa uma perda para o Brasil. Essa é uma lógica do passado, superada pelo aumento do intercâmbio econômico, cultural, científico e humano entre os países. Ou, para condensar numa só palavra, pela globalização. Da mesma forma que as nações tentam atrair investimentos, há hoje uma disputa global por trabalhadores altamente qualificados. É um tipo de migração que nada tem de ilegal, clandestina ou indesejada. Os especialistas a chamam de "circulação de talentos".


Nove em cada dez migrantes qualificados têm como destino algum país rico. Apesar do número impressionante, a demanda ainda supera fartamente a oferta, o que acirra a disputa por talentos. Os países importadores buscam não apenas cientistas, como o físico Ferreira, mas uma variedade de profissões com formação universitária, de engenheiros a gerentes de vendas. Em tese, deveria haver candidatos em abundância. Uma pesquisa realizada em 27 países pela Manpower, empresa de recrutamento e seleção com sede nos Estados Unidos, divulgada no mês passado, mostrou que os trabalhadores qualificados têm maior disposição para viver no exterior. Quase 90% dos profissionais com mestrado topariam mudar de país se surgisse uma oportunidade de carreira, contra 62% daqueles com nível educacional inferior ao ensino médio. Na prática, a demanda supera a oferta. A Noruega é um exemplo de esperanças frustradas. Com a taxa de desemprego em irrisórios 2%, as empresas daquele país simplesmente não conseguem ocupar com noruegueses todas as vagas disponíveis para engenheiros e executivos. A Noruega estabeleceu uma cota anual de 5 000 imigrantes qualificados de fora da Europa, mas as vagas jamais são totalmente preenchidas.

Os brasileiros estão entre os menos dispostos a arriscar-se no exterior. No ranking dos países que mais exportam mão-de-obra qualificada, o Brasil aparece em modesto 28º lugar. Estima-se que apenas 10% dos brasileiros que vivem no exterior tenham diploma universitário. Não é motivo para comemorar. Ao contrário do que possa parecer, exportar talentos é saudável para um país em desenvolvimento. Sobretudo se a capacidade de seu mercado de trabalho absorver esses profissionais for pequena. "Um taxista com diploma universitário em Lagos ou Bogotá seria mais útil ao país se estivesse trabalhando no exterior e enviando dinheiro para casa", disse a VEJA o cientista político austríaco Michael Jandl, do Centro Internacional para o Desenvolvimento de Políticas de Migração, em Viena. Se o imigrante estiver atuando em sua área de especialização, tanto melhor. De pouco adianta ter um engenheiro brasileiro fazendo seu pé-de-meia como garçom em um pub inglês. Isso é o que os economistas que estudam a imigração chamam de "desperdício de cérebros".


Se esse mesmo imigrante for contratado por uma empresa de engenharia, por uma universidade ou conseguir montar o próprio negócio, poderá dar inúmeras contribuições ao país de origem. A mais relevante é o estabelecimento de uma rede de contatos profissionais que inclua alguns de seus conterrâneos. "Os imigrantes normalmente mantêm vínculos com sua família, amigos e ex-colegas de faculdade, que, muitas vezes, se transformam em relações comerciais ou científicas", diz a socióloga alemã Maren Borkert, do Fórum Internacional e Europeu para Pesquisas em Migração. Mauro Ferreira coordena um grupo de pesquisa com cinco físicos em Dublin. Dois deles são brasileiros com bolsas inteiramente financiadas pela Irlanda. Eles dificilmente teriam tido essa oportunidade, não fosse a intermediação de Ferreira, que faz questão de receber currículos do Brasil e indicações de estudantes feitas por seus ex-professores. "Não existe carta de recomendação melhor do que a palavra de alguém que você conhece", diz Ferreira. Ele também ajuda seus colegas irlandeses a escolher candidatos brasileiros para bolsas de pesquisa. Para completar, metade dos artigos científicos publicados pelo físico carioca teve a parceria de compatriotas.

Fonte: Revista Veja / Edição 2069 / 16 de julho de 2008

Veja a reportagem completa clicando aqui.

1 comentários:

Gisa e Diogo disse...

Lidiane e Júnior, também ficamos muito felizes em conhecer mais um casal que cultiva o mesmo sonho que o nosso, e ainda mais de tão pertinho! Bom,com relação ao que vcs nos perguntaram... tive q dar uma olhadinha no formulário pq faz muito tempo q o preenchi, mas é bem simples. No caso da Lidiane, na questão reservada aos empregos (9.1- formulário de demande), é só responder normalmente, sem medo =) Não tem problema ela trabalhar em algo diferente da sua área de formação. Coloca-se lá em que se está trabalhando atualmente juntamente com as funções no atual cargo e logo depois coloca-se o emprego dela no CCAA e as funções dele que, como no meu caso, deve ser resumir a elaborar plano de aula e de curso, dar curso de língua inglesa, aplicar exercícios e avaliações... Tudo o que todo profe faz =) Bom, se ainda restou alguma dúvida, podem perguntar =)Ah, adicionamos vcs tb no nosso blog =)